"É como num shopping: os consumidores hoje não compram para satisfazer um desejo, (...) compram por impulso. Semear, cultivar e alimentar o desejo leva tempo (um tempo insuportavelmente prolongado para os padrões de uma cultura que tem pavor em postergar, preferindo a satisfação instantânea. O desejo precisa de tempo para germinar, crescer e amadurecer. Numa época em que o longo prazo é cada vez mais curto, ainda assim a velocidade de maturação do desejo resiste de modo obstinado à aceleração. O tempo necessário para o investimento no cultivo do desejo dar lucros parece cada vez mais longo - irritante e insustentavelmente longo." 1
Mas eu nasci nessa realidade urgente, acelerada - sou fruto dessa época. Estabeleci padrões que se tornaram incompatíveis. Os detalhes almejados são impossíveis de serem alcançados. Encontrar o híbrido de anjo e demônio (pois é, minha idealização é bem estilo Nelson Rodrigues), torna-se uma meta repleta de dificuldades. Acredito que eu faça isso por alguns motivos específicos: falta de confiança (crio empecilhos para me entregar), excesso de confiança (nada é suficiente) ou porque como resultado de relacionamentos anteriores estipulei um parâmetro repleto de desafios.
Vou continuar lendo o Bauman, e só para constar, eu estou fazendo a minha parte - plantando sementes, esperando o desejo germinar...
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Postado ao som de Desterro - Luar na Lubre
1 BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2003, p. 26.
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